
GUINÉ, 20 ABR 70
Assassinatos traiçoeiros e bárbaros
No dia 20.04.1970, foram bárbara e cobardemente assassinados, por uma patrulha do P:A:I:G:C:, na mata de Jolmete, sector de Teixeira Pinto (hoje Canchungo) os Majores do Exército Português Passos Ramos, Pereira da Silva e Magalhães Osório e o Alferes Joaquim Mosca, com os seus acompanhantes.
Vinham totalmente desarmados a um encontro anteriormente acordado com esta força do P.A.I.G.C., a negociar a rendição e posterior incorporação nas nossas F.A. (Forças Armadas) de um grupo de guerrilheiros da área do chamado Chão Manjaco.
Por intermédio do meu saudoso e querido colega e amigo Gentil Ferreira Viana, militante “histórico” do M.P.L.A., vim a conhecer pessoalmente, e a trocar com ele relações de amizade, o antigo Presidente da Guiné Bissau, Luís de Almeida Cabral, de quem fui advogado até à data do seu falecimento, ocorrido há cerca de 3 anos.
Luís Cabral era um patriota e um humanista, tal como seu irmão Amílcar Cabral, que repetiam, vezes sem conta, aos microfones da Rádio de Argel e da sua Rádio da Libertação que a sua luta, para conquistar a liberdade e a soberania para os seus Povos da Guiné e de Cabo Verde, não era dirigida contra o Povo Português, nem contra os seus Soldados, mas tão só contra o regime colonial que a todos oprimia.
Tinha “raízes portuguesas”, visto que a sua mãe era natural de Viseu.
Por esta memória, que dele guardo, nunca consegui compreender porque razão o P.A.I.G.C. assassinou naquela circunstâncias, aqueles 4 oficiais do nosso Exército e seus acompanhantes, totalmente desarmados e indefesos.
Igualmente, não consigo entender qual a razão pela qual, a seguir à Independência da Guiné, em Setembro de 1974, foram também assassinados, bárbara e cobardemente, muitos dos Comandos Africanos, essa tropa nativa de elite que serviu sob a nossa Bandeira, obedecendo a ordens hierárquicas legítimas do nosso Comando-Chefe.
Foi-lhes dito que entregassem as suas armas e prometida a sua integração nas Forças Armadas do P.A.I.G.C. e/ou em outras instituições, após a sua desmobilização.
Mas uma vez desarmados (aqueles que não conseguiram escapar, como o “nosso” Malan Baldé, iniciado na nossa C. Artª.1690, que assistiu, na prisão, ao espancamento, pelos carrascos do PAIGC, até à morte, de seu Pai, o velho RÉGULO DE SARE GANÁ), foram levados aos pelotões de fuzilamento, onde também foram assassinados fria e cobardemente.
E o que é mais grave ainda é que parece ter havido compreensão e passividade da nossa soberania então ali representada.
Esta era a conduta, e o paradigma, que o “meu velho” Comandante-Chefe General António de Spínola, tanto repudiava e, terminantemente, proibia nas nossas fileiras.
O General António Sebastião Ribeiro de Spínola era um Patriota, um Humanista e um excelente condutor de Homens nos campos de batalha a que era chamado.
Nunca permitiu que um prisioneiro feito ao nosso I.N. (Inimigo) de então, o P.A.I.G.C., nem um seu simpatizante e/ou colaborador fosse maltratado e muito menos torturado e/ou fuzilado, pelas NT (Nossas Tropas).
Aliás, tínhamos ordens e orientações expressas e rigorosas para que, uma vez capturado algum elemento do I.N., devia ser tratado com toda a dignidade, alimentando-o como aos nossos Soldados e tratando-lhe os ferimentos, se os tivesse.
Várias vezes interpelei o Presidente Luís Cabral, na sua casa, em Miraflores e/ou na minha, sobre qual a necessidade que teve o P.A.I.G.C., de executar todos estes fuzilamentos, os destes nossos Oficiais e os dos nossos Comandos Africanos, em vez de os terem feito prisioneiros.
Ficava nitidamente incomodado com esta minha insistência, mas lá se ia desculpando, com a alegação de que esta atitude, que dele não dependia directamente, era necessária para manter a coesão e a unidade das suas F.A.R.P. (Forças Armadas Revolucionárias Populares), e dissuadir as NT de tentarem novos aliciamentos.
À medida que os anos foram passando e melhor se conheceram, por dentro, os hábitos e métodos do P.A.I.G.C., em comparação com os que o nosso Comandante-Chefe nos ordenava, mais me orgulho de ter pertencido, durante cerca de 7 anos, ao Exército Português e ter servido com este Comandante-Chefe, General António de Spínola, o que considero uma Honra e um privilégio, ao ter comandado, sob as suas ordens, nos campos de batalha da Guiné, os excelentes Soldados que a Pátria me confiou.
António Martins Moreira
Advogado
(Alferes Milº Infª, Guiné 1967/1969)
(Tenente Milº Infª, Mafra E.P.I 1970/1971)
* António Martins Moreira
escreve ao abrigo da antiga ortografia
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