A PORTA ATLÂNTICA
Portugal foi no passado, o país que mais proveito tirou da sua posição marítima, sendo atualmente o que menos dividendos recolhe; não obstante ser na União europeia quem mais área de mar tem sob seu controle; de pouco serve aos portugueses este manancial de riqueza desaproveitada, porque estamos a empobrecer a um ritmo acelerado e a uma rápida quebra na qualidade de vida dos portugueses; quando o mar e área agrícola que possuímos, seria mais que suficiente para que Portugal fosse dos países mais ricos da Europa.
Os milhares de trabalhadores a serem compelidos a aceitar rescisões, num país já muito descompensado pela vaga de emigração de licenciados nos últimos anos, coloca um quadro negro no futuro do desenvolvimento em Portugal, e a dificuldade que terão nos próximos 20 anos em conseguirem trabalho.
Muitos são altamente qualificados, podendo a sua experiência ser aproveitada na exploração marítima, agrícola e portuária, para transformar Portugal num país rico.
Mas a situação mais dramática, está reservada para aqueles que optam por receber indemnizações, ou serem forçados à sua aceitação; porque muitos dos seus familiares, brevemente vão encontrar-se também na situação de desempregados; sem quaisquer ajudas porque já foram esgotadas, depressa obriga aos primeiros por uma questão de solidariedade familiar, a repartir com eles o provento da “venda” do seu posto de trabalho; em alguns casos, sem lhes terem sido apresentadas alternativas.
Os valores que vão receber pouco vão durar obrigando-os a procurar uma nova ocupação; que em alguns casos, será em mercado de trabalho clandestino; pago por quem exerce há muito este tipo de economia. Como se não fosse o suficiente, dezenas de milhares de funcionários públicos serão colocados em regime de mobilidade com cortes brutais nos seus rendimentos; que colocam a sua subsistência e dos seus familiares em “risco” de pobreza prolongada; arrastando com ela muitos fatores negativos onde se inclui, grande perda de valores que são subjacentes a este drama, sem que para tal a nossa população tenha sido minimamente prevenida; tudo para dar cumprimento a compromissos que foram assumidos sem cálculos de risco.
Independentemente das razões que pensem ter sido as melhores para debelar a crise, existe uma que não lhes assiste; que é colocar a maioria dos portugueses em apenas uma década, no povo mais pobre e endividado de toda a Europa; vindo a seguir e por arrasto, o atraso a todos os níveis.
O nosso país encontra-se numa situação geográfica privilegiada, é tempo de tirar partido dela como já se fez no passado; “Portugal é uma Grande Porta Atlântica que nos pode trazer grandes vantagens” se o país fosse um “Offshore Marítimo;” Sines é um exemplo, o maior e mais bem posicionado porto Atlântico de águas profundas.
Nenhum outro país europeu goza deste privilégio; pela posição geográfica, tem todas as condições para ser um grande polo de atividade económica europeia e Mundial.
Os portugueses já entenderam que a solução dos seus problemas não passa por Berlim, que tem esmagado Portugal com austeridade e alguma falta de solidariedade; temos que enfrentar a crise a sós, e não há tempo a perder; e não se pode deixar para os outros a tarefa que nos cabe, sendo tempo de aprendermos a lição; é que, enquanto os ingleses acordaram para a realidade, Portugal e outros países do Sul ainda dormem num sono profundo. Passados 10 anos, Portugal ainda não conseguiu reagir à crise em consequência dos líderes que escolhemos para a resolver; e sobretudo, da inércia e letargia em que os portugueses se deixaram cair.
Porque somos uma Nação de aventureiros, haverá sempre uma alta taxa de emigração; mas esta não terá que ser necessariamente de gente pobre; é este o paradigma que temos que inverter.
* Joaquim Vitorino. Jornalista