
Com a devida vénia ao nosso Colega Jornal de Oleiros, republicamos a Crónica da Guerra da Ucrânia desta data, já depois da nova intervenção do Presidente Putin, dada a importância da mesma e o que pode representar no futuro próximo.
Recordamos que as Crónicas deram origem ao Livro recentemente lançado pela Editora Páginas de Motivação, apresentado na Feira do Livro e à venda em dezenas de livrarias em todo o país.
Crónica da Invasão da Ucrânia, à distância (I) a (LXVII) – (*) Mendo Henriques, Professor da Universidade Católica-
21 de setembro 2022 – (LXVII)
Crónica da Invasão da Ucrânia, à distância
. это не блеф – Ucrânia e mundo livre saberão responder
É uma ilusão da maior parte dos media, e de muitos comentadores, considerar que Putin está a jogar xadrez com os adversários internos e internacionais, calculando a melhor jogada. Nada disso. Desde que iniciou a grande invasão da Ucrânia a 24 de fevereiro Putin está a jogar poker. Mas após as derrotas de Kyiv em Abril e a derrota de Kharkiv em Setembro, com a hora da verdade a aproximar-se, as suas jogadas e pronunciamentos revelam uma insegurança e aceleração crescentes. Putin sabe que tem pouco tempo até que as elites do poder no Kremlin o removerem como um perdedor.
Foi assim que se lançou para a declaração no dia 21 de setembro de mobilização parcial de 300 mil homens das reservas militares. A declaração veio culminar anúncios anteriores de referendos regionais nos territórios invadidos e da modificação do código penal para sancionar eventuais desertores. No dia 19, Vladimir Putin ordenou ao vice-chefe da administração presidencial, Sergei Kiriyenko, para realizar “referendos” sobre a adesão em todos os territórios ucranianos ocupados – Donetsk, Luhansk, Zaporozhya e Kherson na próxima semana. Ordenou ainda à Duma do Estado e ao Conselho da Federação para introduzir no Código Penal os conceitos de “mobilização”, “lei marcial” e “tempo de guerra”.

Sergei Kiriyenko
A introdução dos 300 mil militares da reserva não será imediata pois têm de ser mobilizados, re-treinados e dotados de equipamentos. Também é possível que sejam enviados como tropas de guarnição e o estado maior russo traga para frente muitas das dezenas de unidades militares e parte das centenas de milhares de homens, estacionados nas fronteiras da Europa e da Ásia. É aliás um dos casos mais notados a “dissipação” – o termo de Clausewitz – do exército russo. Com cerca de 1.050.000 de efetivos em tempos de paz não conseguiu mobilizar para a guerra da Ucrânia até agora mais de 200. 000.
Quanto a ameaças nucleares Putin já fez várias desde o início da invasão, mas a desta quarta-feira foi a mais explícita até agora, reforçando-a com a expressão isto não é bluff. No discurso de 21 de setembro veio afirmar: “Se a integridade territorial do nosso país for ameaçada, certamente usaremos todos os meios à nossa disposição para proteger a Rússia e o nosso povo … Não é bluff”. No bluff, há dois parceiros e as nações livres sabem responder. E que mais poderia dizer um governante derrotado na Ucrânia e que conseguiu unir contra si mais de sessenta nações livres e que foi admoestado pelos presidentes da Índia e da China que o caminho da paz seria preferível?
Conforme afirmou a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, as ameaças de Putin valem o que valer as respostas do Ocidente. “A capacidade analítica do círculo de Putin é baixa–não entendem os riscos do que estão a fazer”, afirmou o importante conselheiro Podolyak. “É difícil fazer previsões quando uma pessoa é irracional.”

Iryna Vereshchuk
Do que se sabe, os Estados Unidos e a coligação das nações livres já alertaram a Rússia sobre retaliação em caso de tentativa de anexações de território por referendo. Entre as respostas estará a permissão para as Forças Armadas da Ucrânia usarem armas fornecidas para destruir alvos no interior da Federação Russa e novas armas para atingir alvos a uma distância de mais de 300 km. Quanto à utilização de armas nucleares táticas na Ucrânia, os avisos têm sido de uma resposta ocidental maciça com armas convencionais levando à aniquilação dos sites russos de lançamento de mísseis. O que os HIMARS fazem a nível tático, o arsenal de mísseis balísticos e hipersónicos ocidentais faria a nível estratégico. Restam os submarinos, é claro.
Perante as crescentes perdas russa, a agitação nas elites do Kremlin e o pânico silencioso na maior parte das grandes instituições é enorme. O grupo dos “ainda mais duros” tem um aparente protocolo com Putin da sua substituição pelo filho de Nicolau Patrushev. A presidente do Banco Central, Elvira Nabbiulina pediu, de novo a demissão, porque condicionara a sua permanência em 27 de fevereiro a não haver mobilização. Quebrada a promessa, veremos se Putin a aceita a demissão. É um caso a seguir com atenção até porque as ações na Bolsa russa já caíram 10%.
Shoigu nesta quarta-feira apresentou a sua mais recente mentira oficial sobre perdas: 5.937 militares mortos. Uma mentira particularmente patética porque o SITREP matutino do Kremlin a 21/09/2022, fala da perda irrecuperável de 59.373 militares. Isto excluindo o número de 4.638 mortos da Guarda Nacional e de 17.561 mortos dos mercenários. Por muito estranho que pareça, Shoigu dividiu por dez o número de baixas.
É só um número para a propaganda.
As estimativas ocidentais estão a aproximar-se de 90.000 mortos e feridos russos.
Amanhã é outro dia.
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