Tive acesso a esta “despedida de Lisboa” através do http://www.jornalmapa.pt jornal de que sou assinante. A Catarina Lopes surpreendeu-me por este “grito de libertação da grande cidade…” hoje completamente adulterada e insuportável, um pouco como eu próprio sinto e de lá também saí.

Como mandam as regras, escrevi a pedir autorização para republicar aqui, concedida e, assim publicada abaixo.

Despedida de Lisboa

* Catarina Lopes Mateus

catarinalomateus@gmail.com

 

Adeus Lisboa.

Atingi o meu limite.

Cansei-me que destruas tudo o que construi.

Cansei-me que não oiças

que estamos cansados das feiras de imanes e carteiras de cortiça

que enchem os teus jardins e miradouros.

que estamos cansados dos tuktuks, da bolt, da lime, da bird e da link

…e dos websummits.

Esqueceste-te de nós,

daquelxs que te construímos.

 

Por isso vou.

Vou,

mas quero que saibas que vou voltar.

E que como eu muitxs já foram.

Como eu, muitxs mais irão.

E como eu, muitxs mais voltaram.

Um dia. O dia.

O dia em que entendas que a especulação é um barco

onde cabem muito poucos,

e que a ti, pequena Lisboa,

te calhou apenas uma miserável boia cor-de-laranja.

Nesse dia voltaremos.

Voltaremos para proibir os passaportes dourados,

E para te relembrar que os unicórnios não existem.

Voltaremos para te mostrar que nos Santos, a sardinha não se vende, oferece-se.

E que a Estrela precisa menos de metro que a Póvoa de Santo Adrião.

Voltaremos para te mostrar que não só nómadas precisam de casas

e para queimar o Campo Novo e construir um Novo Bairro da Torre.

Voltaremos para te ocupar as casas vazias

e para arrancar as grades que puseste a fechar os nossos jardins.

Voltaremos, para jogar cricket no Martim Moniz,

e dançar mornas e kizombas nos miradouros.

Voltaremos para devolver o Mercado da Ribeira a quem produz,

e abrir o Palácio de Belém às pessoas que dormem na rua.

Voltaremos para reclamar o que deixaste que nos tirassem

E para reconstruir o que destruíste.

 

Até ao nosso regresso Lisboa,

 

 

 

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