
Introdução
As nossas edições estão a evidenciar a história, as coisas decisivas, os Homens que marcaram um tempo, uma região e pela obra se perpetuaram.
João Ramos, ao aceitar Colaborar no Jornal de Oleiros e tornar-se no primeiro Presidente do Conselho Editorial, foi decisivo para o jornal, mas, responsabilizou muito o Director.
Com João Ramos tornámos o jornal conhecido muito além da região onde está sedeado.
Passámos a estar em gravação permanente pela Memória WEB portuguesa, reconhecendo esta entidade valor histórico ao título.
Já por diversas vezes, procurámos que se faça a História deste Homem marcante a quem Oleiros tanto deve, mas, por razões financeiras (presumo) nunca foi possível.
O Director do Jornal de Oleiros, normalmente persiste nas ideias e, de uma forma ou outra, faremos o que pensamos ser justo.
Não vamos abordar (nós) as vertentes Jurídica e o valor e contribuições históricas de João Ramos.
Para isso, convidámos já quem melhor do que nós o pode fazer.
Com efeito, em breve um reputado historiador e um eminente Jurista, farão sobre João Ramos o que nós não teríamos possibilidades de fazer, mas promoveremos com prazer.
* Fotos de arquivo onde é justo destacar também figuras importantes que ajudaram o Jornal de Oleiros. O ” Tózé”, o Luis Mateus, Paulino Fernandes e outros que adiante iremos referindo.
PF
Viajar para Oleiros (I)
1. Introdução – A emigração
Vivendo numa região montanhosa, agreste, isolada, de parca riqueza e muito trabalho, na alma das gentes das nossas terras, a aspiração de melhorar a vida e de encontrar melhor sorte para os seus é tão velha como o povoamento e o labor do desbravar das serranias, vales e pequenas planícies, no esforço de fabricar da terra a subsistência, o pão de cada dia.
Das aldeias e casais sempre saíram homens que tentaram a sorte noutras paragens. Sempre com o secreto desejo do regresso com pecúlio acumulado, para melhorar a vida dos seus e garantir uma velhice menos apertada. Nem sempre regressaram. Nem sempre melhoraram a vida. Mas sempre foram decisivos no progresso e desenvolvimento das nossas comunidades. Todos nós temos ou tivemos familiares emigrados e compreendemos bem esse ímpeto, a inquietude e a angústia de quem deixa o lugar da sua infância. Tal como conhecemos e já participámos na alegria do regresso.
Sem preocupação de grande minúcia, podemos destacar vários períodos e fenómenos migratórios até ao presente.
Até aos finais do século dezoito, saíram para integrar milícias e exércitos, para exercerem funções eclesiásticas, ou para ingressar em ordens religiosas. No segundo quartel desse século, deu-se o surto de emigração para Lisboa e Brasil. Ao longo do século XX, continuou a saída para Lisboa, sobretudo até finais dos anos cinquenta. O grande surto de emigração para a Europa, para França e outros países ocorreu nos anos sessenta. África tornara-se outro destino importante, desde os anos cinquenta, mas, sobretudo nos anos sessenta.
Na actualidade e já desde os anos oitenta, com excepção de casos pontuais e da emigração sazonal para países europeus, a emigração acentuou-se. As mudanças na economia local, o fim da agricultura de subsistência, da exploração da resina e das pequenas actividades locais, ditaram a saída para a procura de emprego para as cidades, nomeadamente para capital de distrito. Essa tendência reforçou-se com a generalização do acesso ao ensino superior que leva os jovens para as cidades universitárias e daí para outros pontos do país onde encontram o emprego adequado ou possível.
As mobilizações militares do século vinte merecem referência e lugar muito especial nas nossas memórias. São realidades migratórias específicas, forçadas e temporárias. A mais recente afectou a generalidade dos jovens nascidos nos anos de 1940 a 1954 com a mobilização para as guerras coloniais de Angola, Guiné e Moçambique. A anterior e já longínqua, fora a mobilização para a Primeira Grande Guerra, de 1914-1918. Nesta, partiram para a barbárie das trincheiras da Flandres, no Corpo Expedicionário Português. Outros partiram pelos mares até ambientes inóspitos de aventura mas também de desconforto e sobrevivência difícil, na defesa ou recuperação de parcelas das colónias de Moçambique e Angola, disputadas pelo exército inimigo alemão, inicialmente com discreta complacência e acordo do aliado inglês.
2. – Emigração, viagens e vias de comunicação
Registar a odisseia da diáspora das gentes do concelho, de todo o concelho é quase uma obrigação para os oleirenses de Hoje. Registar os êxitos e realizações dos emigrados, mas também as suas lutas, frustrações e insucessos. O seu regresso ou a sua fixação nos países e regiões que os acolheram. Desafiamos os leitores a contar as suas histórias pessoais, ou de pessoas suas conhecidas, através do Jornal de Oleiros.
O conhecimento das nossas emigrações é fundamental para a percepção da nossa identidade histórica, cultural, social e económica.
Esta é uma primeira referência sobre a nossa diáspora (emigração). Um desafio aos leitores para novos artigos ou envio de informação sobre os emigrados.
Sob o título “Viajar para Oleiros” agruparemos um conjunto de textos através dos quais vamos relembrar a evolução nas vias de comunicação e meios de transporte para o concelho.
3. – A utopia
“Viajar para Oleiros” será, ainda, uma oportunidade para dar enfoque à necessidade de completar o processo de construção e melhoria de vias de comunicação que ainda possam reverter a actual desertificação de pessoas gerando novas actividades económicas. Estamos certos de que as autoridades locais estão atentas e despertas e lutam pela concretização das vias mais relevantes, financeira e politicamente realizáveis. Perdoar-se-nos-á uma certa digressão pela utopia, própria do exercício diletante e da ausência de responsabilidades de poder. Utopia que terá, ao menos, a virtude de inspirar reflexão, ambição colectiva e esforço de acção comum no desenvolvimento do concelho. Ao futuro compete distinguir na utopia o realizável e o inviável.
A utopia de que falamos fica circunscrita às vias rodoviárias. Está longe a utopia do caminho-de-ferro defendida nas primeiras décadas do século vinte, por regionalistas e políticos convictos, versada em numerosos artigos de imprensa e objecto de iniciativas políticas muito concretas. Uma linha férrea com diversificadas propostas de trajecto. Ora, partindo da região de Tomar passando por Ferreira do Zêzere em direcção a Cernache do Bonjardim, Sertã, Oleiros, Estreito, Castelo Branco. Ora, com início mais a norte, na região de Ourém, passando por Figueiró dos Vinhos, Cernache, Sertã, Oleiros, Orvalho, Fundão, Espanha (por Monfortinho). Dessa utopia fica, também, a constatação de que o objectivo central que a ditava, de quebrar o isolamento desta vasta região de serras e florestas, ainda não está concretizado. Todas as estradas modernas, entretanto construídas, contornaram Oleiros que não beneficia, ainda, de itinerários de fácil e rápido acesso à rede de auto-estradas, itinerários principais e complementares mais próximos.
Uma boa estrada para a Sertã, Cernache, Ferreira do Zêzere, completaria a ligação adequada e mais curta a Lisboa. Uma boa estrada de Oleiros a Castelo Branco, com percurso cómodo e de tempo reduzido de uma hora para cerca de vinte minutos permitiria residir no concelho e trabalhar na área de Castelo Branco. Afiguraram-se, agora, como prioridades essenciais, para o desenvolvimento local. Parecem projectos concretos que poderão realizar-se no curto e médio prazo.
Vias melhoradas para Coimbra e para o Fundão seriam factores de diversificação de actividades comerciais e de progresso turístico.
Utopia, que, se concretizada, seria a chave de uma nova economia local e da coesão concelhia, com a neutralização dos riscos de fragmentação e dispersão dos serviços públicos essenciais (como a saúde e justiça) e mesmo dos riscos de extinção do concelho. Parece decisivo para o futuro criar uma rede integrada de vias de comunicação interna concelhia, a partir das vias já existentes, com a construção de outras complementares. No quadro de um plano de desenvolvimento local, essa rede inserir-se-ia na concretização de dois objectivos de desenvolvimento.
O primeiro desses objectivos seria o desenvolvimento e aproveitamento das potencialidades económicas oferecidas pelo rio Zêzere. De Cambas à Madeirã, deveria poder circular-se ao longo do rio, o mais próximo possível das águas da albufeira. Deveriam construir-se pontos de acesso ao rio e outras estruturas de apoio para actividades fluviais e turismo de natureza. A orografia das encostas ribeirinhas apresenta-se como obstáculo difícil. Porém, há soluções para ultrapassar esses obstáculos, contornando esforços financeiros incomportáveis.
O segundo objectivo prende-se com a coesão social e demográfica do concelho. É necessário viabilizar actividades económicas em todas as áreas do concelho e não apenas na sede. Seja a recuperação de actividades e produções agro-pecuárias tradicionais, com aposta na qualidade e genuinidade locais. Seja a viabilização de indústrias de prestação de serviços, por pequenos empresários locais e comercialização nos maiores centros regionais e nacionais. Seja a promoção de actividades de turismo rural e da natureza. Seja a instalação de prestadores de serviços em teletrabalho. É necessário manter e melhorar as condições de fixação de pessoas nos povoados e aldeias, pelo menos em alguns dos mais importantes, facilitando-lhes o acesso às condições de vida a que, nos dias de hoje, com inteira justiça, todo o cidadão aspira.
Um plano de desenvolvimento local que persiga esses dois objectivos tem de propor a melhoria da rede de estradas concelhia e a sua articulação com estradas melhoradas de ligação para os centros populacionais e grandes mercados de consumo e de emprego exteriores: Lisboa, Castelo Branco, Sertã.(Lamentavelmente, a Sertã descura a sua história e a sua natural condição de líder da sub-região numa ultrapassada visão mais própria de tempos de relações de domínio senhorial. Alheia-se da definição e defesa de objectivos e interesses da sub-região, diluindo a função aglutinadora que daria força a todos os concelhos. Ao limitar-se à defesa de interesses exclusivos, circunstanciais e imediatos, constitui-se força centrífuga e desagregadora da sub-região, com cada vez maiores ligações a Castelo Branco e Abrantes, em prejuízo das naturais ligações à Sertã).
Uma tal rede concelhia significaria o encurtamento e melhoria de ligações das três distintas áreas geográficas do concelho. O funcionamento de três eixos de circulação a convergir em pontos estratégicos do eixo central constituída por uma estrada melhorada no itinerário Sertã-Oleiros-Castelo Branco.
Em próximo artigo continuaremos na divagação sobre esses três eixos da rede concelhia de vias de comunicação.
* João H. Santos Ramos, Magistrado
Nota do Director
O Dr. João Ramos, Presidente do Conselho Editorial do Jornal de Oleiros e um dos Fundadores, inicia esta nova série de artigos que nos entusiasmam e desejamos sejam uma contribuição importante para os nossos Leitores e Amigos.
A interactividade neste jornal é uma marca, razão que nos leva a corroborar o convite formulado pelo Dr. João Ramos para o envio de contribuições que ajudem a fazer a nossa história e a compreender melhor a região, com uma visão de futuro revelador da atenção que a região merece.
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