PENÍNSULA IBÉRICA (AL ANDALUZ) DECLARADA LUGAR DE RECONQUISTA PARA O ISLÃO

O Mito da Tolerância e da Paz multicultural medieval em Al Andaluz

Por António Justo

Um dos focos do terrorismo é a Península Ibérica “Al Andaluz”. Esta é “a terra da guerra”, como anunciava já o médico Ayman Al-Sawahiri (vice-chefe da organização terrorista Al Quaida em 2006 ao declarar a guerra santa contra Al-Andaluz (Península Ibérica), especificando: “O objetivo da jihad é libertar os territórios que já foram a terra do islão, desde Al-Andalus até ao Iraque.”

Há duas semanas, antes do atentado de Barcelona, o Estado Islâmico (EI) apelava nos seus sites à “reconquista de Al-Andalus” (HNA,19.08.2017) e anunciava um atentado nos próximos dias, chegando a usar, em 29 de julho passado, a expressão “fogo sobre Al Andaluz”; Al Andaluz era a expressão usada pelos árabes quando se referiam à Península Ibérica, dominada pelos mouros (desde 711 a 1249 a zona de Portugal e desde 711 a 1492 grandes zonas de Espanha).

A tradição islâmica (sharia) divide o planeta em fronteiras religiosas: a “terra da paz” (Dar el Islam) que são as regiões onde os muçulmanos dominam, e a “terra da guerra” (Dar al-Harb), as terras onde o islão ainda não domina. O sonho árabe é a reconquista de Espanha reconquistar o que a reconquista ocidental a reconquista árabe contra a reconquista ocidental em Espanha

 

O Mito de Al Andaluz: estímulo para uns e força alienadora para outros

 

A região da Catalunha (província de Barcelona) é uma terra preferida por radicais muçulmanos para aí viverem. Na Espanha há 800 mesquitas e na sua sombra há também “mesquitas de garagem” onde a pregação do ódio produz frutos. O dia 22 de agosto seria, para já, uma data propícia para mais atentados!

A lembrança da era dourada muçulmana em Espanha (Al Andaluz) é um mito para os muçulmanos no seu sonho de voltar ao fulgor da sua Idade de ouro e, para não muçulmanos, é o mito da suposta era de paz e tolerância entre o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. O sonho árabe corresponde às suas coordenadas de religião política e ao sonho de um império a realizar; da parte europeia, o desejo mitificado de um tempo de paz e tolerância que provem de um trauma de séculos de convívio e de relações frustradas com o vizinho muçulmano – temos, sociologicamente, a experiência dolorosa de uma humilhação, ainda no inconsciente, a procurar refugiar-se na ilusão de uma sublimação.

Os muçulmanos estão na origem, de facto, de um grande desenvolvimento na Península ibérica e na Europa, através da filosofia como tradutores/comentadores das obras dos clássicos gregos (os escritos gregos da antiguidade foram traduzidos para árabe, hebraico e latim em Córdoba), das ciências da medicina (Albucasis, Averróis), das novas técnicas de agricultura, da concentração em aglomerados citadinos e da sua arquitetura própria.

Uma certa tolerância dos potentados muçulmanos do Al Andaluz, foi conseguida então pelo facto de não terem posto em prática o que a doutrina islâmica exigia (Corão, Ditos do Profeta e Sharia). Então como hoje surgiram movimentos de radicalismo (jihadistas) que pretendem pôr em prática o que a doutrina muçulmana e o exemplo de Maomé requer.

O filósofo judeu Moisés Maimonides de Córdoba, propôs uma interpretação alegórica das passagens da Tora de maneira a, nas Escrituras sagradas, termos uma verdade simbólica para os filósofos e teólogos e uma verdade física para o povo (verdade literal!)

O sistema muçulmano perseguiu o seu grande filósofo Averróis que foi um luzeiro na medicina e na filosofia, na qualidade de comentador de Aristóteles. A sua acentuação da razão e a interpretação alegórica dos textos sagrados (semelhante a Maimonides) não agradavam nem aos senhores muçulmanos nem aos senhores cristãos, tendo sido desterrado pelo soberano muçulmano.

Medievalista Francisco Garcia Fitz, constata que  „a tolerância na Espanha muçulmana“ , em que as três culturas se respeitavam mutuamente, não passa de um „mito multicultural“ e não corresponde à verdade histórica. Cristãos e Judeus eram tidos como inferiores e eram marginalizados, embora considerados minorias protegidas (“dhimmis”). Na Espanha, como ainda hoje na Turquia, estavam impedidos de obter tarefas de liderança no exército ou na administração política.

As relações entre grupos religiosos eram caracterizadas por conflitos religiosos, políticos e de raça como conclui Darío Fernández-Morera no ensaio The Myth of the Andalusian Paradise, e que “nos melhores tempos só podia ser controlado através do poder tirânico dos governantes”.

 

A outra parte da realidade muçulmana em Espanha

 

Tanto a demonização como a divinização de uma época ou cultura estão ao serviço da guerra das corporações e da estupidificação de espíritos indiferenciados.

Nesta época, Al Andaluz era um centro de muita criatividade e de alto nível científico e intelectual. O sistema económico era favorável à formação de elites.

Os não-muçulmanos (ahl al Dhimma) eram discriminados e oprimidos. O historiador Bernard Lewis constata: «As sociedades islâmicas nunca reconheceram a igualdade nem fingiram fazê-lo […] Sempre houve discriminação, de modo permanente e naturalmente necessário, como algo inerente ao sistema e institucionalizado pela lei e pela prática

Cristãos e judeus pagavam impostos específicos – um imposto individual e um imposto sobre a terra – que eram muito mais opressivos do que os impostos aos muçulmanos. As comunidades cristã e judaica estavam proibidas de exercer a sua religião em público, não podiam construir novas igrejas nem expressar em público as suas opiniões sobre religião. Muhammad I (823–886) mandou destruir todas as igrejas construídas depois de 711. Judeus e cristãos tinham de usar vestes que os distinguiam dos muçulmanos; nos séculos XI e XII houve também conversões forçadas, deportações e emigrações maciças de refugiados para a Espanha cristã.

O historiador Francisco Garcia Fitz:  “As operações militares do governante Almanzor no século X e as expedições jihad dos Almorávidas e Almohitas no século XII, contra os territórios cristãos, eram uma correspondência às cruzadas cristãs na luta contra o Islão”. Neste pano de fundo, continua o historiador: “a ideia idílica de uma Espanha muçulmana como local de encontro para três culturas parece mais ser a resposta a uma necessidade atual. Os modelos de relações interculturais que a nossa sociedade precisa, não devem ser buscados na Idade Média. Porque o que lá se encontra é o outro lado da realidade: política de exclusão, que culminou em violência e expulsão”. “A tolerância na espanha muçulmana é um mito” .

No fim do califado em 1031, a convivência deteriora-se, chegando a haver um pogrom contra os judeus de Granada, onde milhares foram assassinados. Muitos judeus, entre eles Moisés Maimonides, refugaram-se em áreas mais tolerantes no Mediterrâneo oriental ou nos reinos cristãos emergentes no oeste da Espanha.

O domínio muçulmano terminou como começou…. Rivalidades, no século VIII, entre cristãos tinham facilitado a entrada dos muçulmanos na Península Ibérica e rivalidades, no século XIII, entre muçulmanos facilitaram a reconquista cristã. Em 1492 o último rei Abu Abdalá (Boabdil), capitulou perante os Reis Católicos, Fernando e Isabel.

Com este contributo não quero justificar preconceitos com preconceitos. Saber é luz que vai iluminado também os nossos mais obscuros recônditos!  Importante é estarmos na disposição de descobrir e servir o espírito da luz, mas sempre conscientes das próprias trevas.

António Justo

© António da Cunha Duarte Justo, Colunista Especializado, Correspondente na Alemanha

Teólogo e Pedagogo (Português e História)

Pegadas do Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=4462

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